438
OS MAIAS

— ­Muito galante, com effeito, disse Carlos friamente.

De pé, junto de D. Maria, tirando de vagar uma cigarrette, elle ruminava, quasi com indignação, as palavras da condessa. Ir com ella para o Porto!... E via alli outra exigencia audaz, a mesma tendencia impertinente a dispôr do seu tempo, dos seus passos, da sua vida! Tinha um desejo de voltar junto d’ella, dizer-lhe que não, seccamente, desabridamente, sem motivos, sem explicações, como um brutal.

Acompanhada em silencio pelo esguio secretario de Steinbroken, ella vinha agora caminhando lentamente para elle: e o olhar alegre com que o envolvia irritou-o mais, sentindo no seu brilho sereno, no sorrir calmo, quanto ella estava certa da sua submissão.

E estava. Apenas o filandez se affastou languidamente — ­ella, muito tranquilla, alli mesmo junto de D. Maria, fallando em inglez, e apontando para a pista como se commentasse os cavallos do Darque, explicou-lhe um plano que imaginara, encantador. Em logar de partir na terça feira para o Porto — ­ia na segunda á noite, só com a criada escocessa, sua confidente, n’um compartimento reservado. Carlos tomava o mesmo comboio. Em Santarem, desciam ambos, muito simplesmente, e iam passar a noite ao hotel. No dia seguinte ella seguia para o Porto, elle recolhia a Lisboa...

Carlos abria os olhos para ella, assombrado, emmudecido. Não esperava aquella extravagancia. Suppozera que ella o queria no Porto, escondido no Francfort,