374
OS MAIAS

todas as arvores de fructo, tal a era a isenção da sua alma de poeta?...

— Aquelle miseravel quer-nos privar da sobremesa! exclamou Ega.

Em torno correram risos alegres. O marquez virou costas, enojado com aquella patriotice reles. Outros bocejavam por traz da mão, n’um tedio completo de «todas as nossas glorias». E Carlos, enervado, preso alli pelo dever de applaudir o Alencar, chamava o Ega para irem abaixo ao botequim espairecer a impaciencia — quando viu o Eusebiosinho que descia a escada, enfiando á pressa um paletot alvadio. Não o encontrára mais desde a infamia da Corneta, em que elle fôra «embaixador». E a cólera que tivera contra elle n’esse dia reviveu logo n’um desejo irresistivel de o espancar. Disse ao Ega:

— Vou aproveitar o tempo, emquanto esperamos pelo Alencar, a arrancar as orelhas áquelle maroto!

— Deixa lá, acudiu Ega, é um irresponsavel!

Mas já Carlos corria pelas escadas: Ega seguiu atraz, inquieto, temendo uma violencia. Quando chegaram á porta, Eusebio mettera para os lados do Carmo. E alcançaram-no no largo da Abegoaria, áquella hora deserto, mudo, com dois bicos de gaz mortiços. Ao vêr Carlos fender assim sobre elle, sem paletot, de peitilho claro na noite escura, o Eusebio, encolhido, balbuciou atarantadamente: «Olá, por aqui...»