OS MAIAS
375

— Ouve cá, estupôr! rugiu Carlos, baixo. Então tambem andaste mettido n’essa maroteira da Corneta? Eu devia rachar-te os ossos um a um!

Agarrára-lhe o braço, ainda sem odio. Mas, apenas sentiu na sua mão de forte aquella carne mollenga e tremula, resurgiu n’elle essa aversão nunca apagada — que já em pequeno o fazia saltar sobre o Eusebiosinho, esfrangalhal-o, sempre que as Silveiras o traziam á quinta. E então abanou-o, como outr’ora, furiosamente, gozando o seu furor. O pobre viuvo, no meio das lunetas negras que lhe voavam, do chapéo coberto de luto que lhe rolára nas lages, dançava, escanifrado e desengonçado. Por fim Carlos atirou-o contra a porta d’uma cocheira.

— Acudam! Aqui d’el-rei, policia! rouquejou o desgraçado.

Já a mão de Carlos lhe empolgára as guelas. Mas Ega interveio:

— Alto! Basta! O nosso querido amigo já recebeu a sua dóse...

Elle mesmo lhe apanhou o chapéo. Tremendo, arquejando, de bruços, Eusebiosinho procurava ainda o guarda-chuva. E, para findar, a bota de Carlos, atirada com nojo, estatelou-o nas pedras, para cima d’uma sargeta onde restavam immundicies e humidade de cavallo.

O largo permanecia deserto, com o gaz adormecendo nos candieiros baços. Tranquillamente os dois recolheram ao sarau. No peristylo, cheio de