464
OS MAIAS

nas horas que lhe restavam nenhuma luz, nenhuma coisa da terra.

O sol ia alto, um barulho passou, o Baptista rompeu pelo quarto:

— Ó snr. D. Carlos, ó meu menino! O avô achou-se mal no jardim, não dá accordo!...

Carlos pulou do leito, enfiando um paletot que agarrára. Na ante-camara a governante, debruçada no corrimão, gritava, afflicta: — «Adiante, homem de Deus, ao pé da padaria, o snr. dr. Azevedo!» E um moço que corria, com que esbarrou no corredor, atirou, sem parar:

— Ao fundo, ao pé da cascata, snr. D. Carlos, na mesa de pedra!...

Affonso da Maia lá estava, n’esse recanto do quintal, sob os ramos do cedro, sentado no banco de cortiça, tombado por sobre a tosca mesa, com a face cahida entre os braços. O chapéo desabado rolára para o chão; nas costas, com a gola erguida, conservava o seu velho capote azul. Em volta, nas folhas das camelias, nas aleas areadas, refulgia, côr d’ouro, o sol fino d’inverno. Por entre as conchas da cascata o fio d’agua punha o seu choro lento.

Arrebatadamente, Carlos levantára-lhe a face, já rigida, côr de cera, com os olhos cerrados, e um fio de sangue aos cantos da longa barba de