Os Negros

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a azoinar-me a cabeça. Por fim, vendo-o calmo, fui ter com o preto.

— Conta-me o que sabes desta fazenda. Talvez que...

VII

Meu pensamento era deduzir das palavras do negro algo explicativo da mysteriosa crise.

Nesse entremeio zangara de novo o tempo. As nuvens recobriram inteiramente o céo transformando o espaço num sacco de carvão. Os relampagos voltaram a fulgurar, longinquos, acompanhados de rebôos surdos. E para que tom nenhum faltasse ao horror do quadro a ventania, em rajadas, cresceu, uivando lamentosa nas casuarinas. Fechei a janella. Mesmo assim, pelas frinchas, o assobio lugubre entrava a me ferir os ouvidos...

Bento falou em voz baixa, receioso de despertar o doente. Contou como viera ter alli, comprado pelo proprio capitão Aleixo, no Vallongo, molecote ainda. Disse da formação da fazenda e do caracter cruel do senhor.

— Era máu, meu branco, como deve ser máu o canhoto. Judiava da gente atôa, pelo gosto de judiar. No começo não era assim, mas foi peiorando com o tempo. Parece que perdeu o coração e a alma lhe avoou do corpo. No caso da Liduina... A Liduina era uma bonita mulatinha crioula aqui da fazenda. Muito viva, desde bem criança passou da senzala à casa grande para servir de mucama a sinházinha Izabel...