Os Negros

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rinas denunciarem-me lá fóra um horror talvez maior e é possivel que não resistisse ao lance e fugisse da casa maldita como um criminoso. Mas alli ao menos havia luz, aquelle humilde candieiro de azeite mais precioso no momento que todos os bens da terra.

Estava escripto, entretanto, que ao horror dessa noite de trovoada e mysterio não faltaria uma nota siquer. Assim foi que, altas horas, a luz principiou a esmorecer. Estremeci, e fiquei de cabellos em pé quando a voz do negro murmurou a unica phrase que eu dava tudo para não ouvir:

— O azeite está no fim...

— E não ha mais, lá em tua casa?

— Era o restinho.

Estarreci...

Os trovões echoavam longe, e o uivar do vento nas casuarinas era o mesmo de sempre. Parecia empenhada a natureza em pôr a prova a resistencia dos meus nervos.

Subito, um estalido no candieiro. A luz bruxoleou um clarão final e extinguiu-se.

Trevas. Trevas absolutas...

Corri à janella. Abri-a.

As mesmas trevas lá fóra...

Senti-me cego...

Procurei a cama às apalpadelas, e cahi de bruços na palhinha bolorenta.

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