— 199 —

da ignorancia e da indigencia. Se o assassino é representado alli, é por algum bebado brutal; alli o roubo não vai além da ratonice. É antes o escarro que o vomito da sociedade. O vagabundo sim, o salteador não. Todavia não ha que fiar. Aquelle ultimo degráo dos bohemios póde ter extremidades malvadas. Um dia, lançando a rêde no Epi-Scié, que era em Paris, o que a Jacressarde é em Saint-Malo, a policia apanhou Lacenaire.

Tudo entra naquelles albergues. A queda é um nivelamento. Ás vezes a honestidade esfarrapada escoa-se por alli. A virtude e a probidade tem aventuras. Não se deve, á primeira vista, estimar os Louvres nem condemnar as galés. O respeito publico e a reprovação universal devem ser descascados. Quantas sorprezas não se dão! Um anjo no lupanar, uma perola no monturo, — não é impossivel este sombrio e deslumbrante achado.

A Jacressarde era mais páteo que casa, e mais poço que páteo. Não tinha andares para a rua. A fachada era uma alta parede com uma porta baixa. Levantava-se o ferrolho, empurrava-se a porta, entrava-se em um páteo.

No meio desse páteo havia um buraco redondo, cercado de uma orla de pedra, ao nivel do chão. Era um poço. O páteo era pequeno, e o poço era grande. Em roda do bocal do poço o chão era mal calçado.

O páteo, quadrado, tinha construcções por tres lados. Do lado da rua, nada; mas diante da porta, á direita e á esquerda, haviam aposentos.

Quem, á noite, entrasse alli, um pouco arriscadamente,