— Mas quanto custa?
— Seis canos são seis luizes.
— Quer cinco luizes?
— Impossivel. Um luiz por cada bala. É o preço.
— Quer fazer negocio, seja razoavel.
— Já disse o preço. Examine-me esta obra, Sr. arcabuzeiro.
— Já examinei.
— O molinete anda de roda como o Sr. Talleyrand. Podiam pôr este molinete no diccionario das ventoinhas. É uma joia.
— Já vi.
— Os canos são de fabrica hespanhola.
— Já reparei.
— São lavrados. A cousa arranja-se assim. Deita-se na forja uma alcofa de ferros velhos, cravos, ferraduras quebradas...
— E velhas laminas de fouces.
— Ia dizel-o, Sr. armeiro. Depois deita-se em cima uma boa porção de fogo, e sahe disto tudo um magnifico instrumento de ferro.
— Sim, mas póde ter gretas e buraquinhos; póde sahir esconço.
— Sim. Mas tudo se arranja.
— O senhor é do officio?
— Tenho todos os officios.
— Os canos são brancos.
— É belleza, Sr. armeiro. Faz-se isto com borra de antimonio.
— Diziamos nós que isto custa cinco luizes...
— Tomo a liberdade de observar que eu tive a honra de dizer seis luizes.