ao menos, da consciencia da creação. Commettem-se alli em plena segurança os crimes da irresponsabilidade. Os esboços da vida, phantasmas quasi, completos demonios, vagam alli, em medonha paz, nas sombrias occupações da sombra.
Ha quarenta annos, duas rochas de forma extraordinaria assignalavam de longe o escolho Douvres aos viandantes do oceano. Eram duas pontas verticaes e recurvadas, tocando-se quasi no cume. Parecia vêr-se irrompendo do mar dous dentes de um elephante engulido. Mas eram dentes do tamanho de torres que só poderiam pertencer a elephantes do tamanho de uma montanha. Essas duas torres naturaes da obscura cidade dos monstros não deixavam entre si mais que uma passagem estreita onde a vaga se atirava. Essa passagem, tortuosa e de alguns covados de comprimento, parecia ura pedaço de rua entre duas paredes. A essas duas rochas gemeas chamava-se as duas Douvres. Havia a grande Douvre e a pequena Douvre, uma tinha sessenta pés de altura, a outra quarenta. O vai-vem das ondas fez na base dessas torres um aspecto de serra, e o violento furacão do equinocio de 26 de Outubro de 1859, derrubou uma dellas. A que ficou, a pequena, está mutilada e gasta.
Um dos mais estranhos rochedos do grupo Douvres chama-se o Homem. Esse ainda existe. No seculo passado alguns pescadores, perdidos naquelles cachopos, acharam um cadaver. Ao pé do cadaver havia uma porção de conchas vazias. Tinha naufragado alli um homem, refugiou-se naquelles rochedos, alimentou-se algum tempo de conchas, até que morreu. Veio dahi chamar-se Homem ao rochedo.