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ao pé da caixa das rodas já não tinha oscillação.

Os passageiros tornaram-se silenciosos.

Comtudo o parisiense cantarolava entre dentes a canção de Béranger Un jour le bon Dieu s’éveillant.

Um dos maloenses dirigio-lhe a palavra.

— O senhor vem de Paris?

— Sim senhor. II mit la tête à la fenêtre.

— Que se faz por lá?

Leur planète a péri peut-être. Lá em Paris tudo anda mal.

— Então é tanto lá em terra como aqui no mar.

— Realmente, este nevoeiro é o diabo.

— E póde causar desgraças.

O parisiense exclamou:

— Mas, porque desgraças! a proposito de que? de que servem desgraças? É o caso do incendio do Odeon! Ficou uma porção de familias reduzidas á miseria! É justo isto? Olhe cá, eu não sei qual é a sua religião, mas digo-lhe que não estou contente.

— Nem eu, disse o maloense.

— Tudo o que se passa neste mundo, continuou o parisiense, parece um desconcerto. Creio que Deos não entra nisto.

O maloense coçou o alto da cabeça, como quem procura comprehender. O parisiense continuou.

— Deos está ausente. Devia-se lavrar um decreto para obriga-lo a residir aqui. Anda lá na sua casa de campo e não se importa comnosco. E tudo vai torto e mal encaminhado. É evidente, meu bom senhor, que Deos já não está no governo, está em