— Capitão, a agua está entrando. A machina vai apagar-se.
Terrivel foi o momento.
O choque assemelhava-se a um suicidio. Se fosse de proposito não seria mais terrivel. A Durande atirou-se como se atacasse o rochedo. Uma pontada rocha penetrou no navio como um prego. Mais de uma toesa quadrada de vergas rebentou, rompeu-se a roda de prôa, fracassou a quilha, partio-se o gurupés, o casco aberto bebia agua aos borbotões. Era uma chaga por onde entrava o naufragio. A reacção foi tão violenta que quebrou na pôpa a caixa do leme que ficou solto e oscillante. O cachopo arrancara o fundo, e á roda do navio, não se via nada, além do nevoeiro espesso e compacto e agora quasi negro. Chegava a noite.
A Durande mergulhava pela prôa. Era o cavallo que tem nas entranhas a ponta do touro. Estava morta.
Sentia-se no mar a hora da maré.
Tangrouille estava desperto da embriaguez; ninguem fica bebado em um naufragio; desceu abaixo, subio e disse:
— Capitão, a agua enche o porão. Dentro de dez minutos está nos embornaes.
Os passageiros corriam no tombadilho fóra de si, torcendo os braços, inclinando-se na amurada, olhando para a machina, fazendo todos os movimentos inuteis do terror. O tourista desmaiou.
Clubin fez um signal com a mão, calaram-se todos. Interrogou Imbrancam:
— Quanto tempo pode a machina trabalhar ainda?