Terminado o forro, Gilliatt levantou-se.
Desde alguns instantes, emquanto esteve forrando a corda, ouvia elle confusamente no ar um extrecimento singular.
Assemelhava-se, no silencio da noite, ao rumor que fizesse o bater das azas de um morcego.
Gilliatt levantou os olhos.
Um grande circulo negro volteava-lhe por cima da cabeça no céo profundo e alvo do crepusculo.
Costuma-se a vêr, nos velhos quadros, circulos iguaes sobre a cabeça dos santos. A differença é que são de ouro em fundo sombrio; este era tenebroso em fundo claro. Nada mais extranho. Dissera-se a aureola nocturna da grande Douvre.
O circulo abaixava-se e levantava-se; estreitava-se e alargava-se.
Eram gaivotas, goelanos, corvos, cotovias, uma nuvem de passaros do mar, espantados.
É provavel que a grande Douvre fosse a hospedaria delles, e que elles fossem buscar ahi o repouso. Gilliatt tinha-lhe tomado um quarto. Assustou-os o inesperado inquilino.
Nunca tinham visto esse homem alli.
Durou algum tempo aquelle voar assustado.
Os passaros pareciam esperar que Gilliatt se fosse embora.
Gilliatt, vagamente pensativo, acompanhava-os com os olhos.
O turbilhão volante acabou por tomar uma resolução, o circulo desfez-se em espiral, e a nuvem de passaros foi cahir do outro lado do escolho, no rochedo Homem.