Podia-se entrar então, com risco.
Gilliatt, pela necessidade do trabalho, teve de explorar todas essas grotas. Nenhuma dellas deixava de ser temivel. Em todas as cavas, reproduzia-se, com as dimensões exageradas do oceano, aquelle aspecto de matadouro e açougue extranhamente imitado do centro das Douvres. Quem não vio as excavações desse genero, na parede do eterno granito, esses horriveis frescos da natureza, não póde fazer uma idéa do que é.
Eram dissimuladas essas grotas ferozes, era inconveniente demorar-se nellas. A maré enchente invadia-as até o tecto.
Abundavam os mariscos e os fructos do mar.
Estavam cheias de seixos rolados e amontoados no fundo. Muitos pesavam mais de uma tonelada. Eram de todas as proporções e de todas as côres, a maior parte pareciam ensanguentados, alguns cobertos de filamentos pelludos e viscosos, pareciam grossas toupeiras verdes focinhando no rochedo.
Muitas dessas cavas terminavam como um forno. Outras, arterias de uma circulação mysteriosa, prolongavam-se no rochedo em fendas tortuosas e negras. Eram as ruas do golphão. Essas fendas estreitavam-se constantemente de modo a não deixar passar um homem. Um brandão aceso deixava ver obscuridades gotejantes.
Gilliatt aventurou-se uma vez numa dessas fendas. A hora da maré prestava-se a isso. Era bello dia de calma e de sol. Não havia que temer nenhum accidente do mar que pudesse complicar o perigo.