todo. Os caracteres viris, taes como Lethierry, reagem n’um tempo dado. O desespero tem grãos ascendentes. Do acabrunhamento sobe-se ao abatimento, do abatimento á afflição, da afllição á melancolia. A melancolia é um crepusculo. Ahi o soffrimento funde-se em sombria alegria.
A melancolia é a ventura de ser triste.
Essas attenuações elegiacas não eram feitas para Lethierry; nem a natureza do seu temperamento, nem o genero da sua desgraça, comportavam essas variações. Sómente, no momento em que o encontramos, a scisma do seu primeiro desespero tendia a dissipar-se; sem estar menos triste, Lethierry estava menos inerte; continuava a estar sombrio, mas já não estava amortecido; voltava-lhe uma certa percepção dos factos e dos acontecimentos; e começava a sentir alguma cousa desse phenomeno que se poderia chamar a entrada na realidade.
Assim que, de dia, na sala baixa, não escutava as palavras, mas ouvia-as. Graça veio uma manhã triumphante dizer a Deruchette que mess Lethierry rasgára o envolucro do seu jornal.
Esta meia aceitação da realidade é em si um bom symptoma. É a convalescença. As grandes desgraças aturdem. Sahe-se do aturdimento por aquelle modo. Mas essa melhora parece ao principio um aggravo. O estado do sonho anterior embotava a dôr; antes via-se turvo, sentia-se pouco; agora a vista é clara, não se escapa a cousa alguma, sangra-se por tudo. Aviva-se a chaga. A dôr accentua-se com todos os pormenores que se vêem. Revê-se tudo na memoria. Achar tudo, é lamentar tudo. Ha nesta volta á realidade todas