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nos ouvidos, talvez ouvisse mal, repete o que disseste.

Gilliatt replicou:

— Disse que não.

— Disseste que não. E teima o bruto! Tens alguma cousa, é claro! Disseste que não! É uma estupidez que passa os limites do mundo conhecido. Por muito menos dão-se banhos medicinaes a uma creatura. Ah! tu não amas Deruchette! Então foi por amor do velhote que fizeste tudo isto! Foi pelos bonitos olhos do papá que foste ás Douvres, que tiveste frio, que tives calor, que tiveste fome e sede, que comeste bichos do rochedo, que tiveste por quarto de dormir o nevoeiro, a chuva e o vento, e que me trouxeste a machina como se traz a uma mulher bonita o canario que fugio? E a tempestade de ha tres dias! Se tu imaginas que eu não faço idéa do que passaste! Estiveste em boas! Foi então com o pensamento em mim que cortaste, rachaste, viraste, arrastaste, limaste, serraste, inventaste, e fizeste tantos milagres, tu só, mais que todos os santos do paraiso? Ah! idiota! Pois olha que me aborreceste com a tua sanphona! Na Bretanha chama-se biniou. Sempre a mesma toada, animal! Ah! tu não amas Deruchette! Não sei o que tens. Lembra-me agora, eu estava neste canto, Deruchette disse: Casava-me. E hade casar comtigo. Ah! não a amas! Feitas as reflexões, eu não comprehendo nada. Ou tu estaes doudo ou eu! E não diz palavra! Não é licito fazer o que fizeste e dizer no fim: não amo Deruchette. Não se faz um obzequio á gente para obrigal-a a ficar com raiva. Pois bem, se não te casas com ella,