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Gilliatt é um finorio. Que dinheiro é este em ouro?

Mess Lethierry acabava de ver, pela fresta da tampa, que havia ouro na caixinha posta sobre as notas de banco. Pegou nella, abrio-a, esvasiou-a na palma da mão, e pôz o punhado de guinéos sobre a mesa.

— Para os pobres. Sr. Landoys, dê estes pounds da minha parte ao condestavel de Saint-Sampson. Sabe da carta de Rantaine? Mostrei-lh’a outro dia; pois bem; aqui estão as notas do banco. Com isto posso comprar carvalho e pinho, e fazer a carpintaria. Veja. Lembra-se do tempo que houve ha tres dias? Que ataque de vento e de chuva! O céo disparava tiros de canhão. Gilliatt recebeu tudo isso nas Douvres, sem que lhe obstasse o desaferrar o navio como eu tiro o meu relogio da parede. Graças a Gilliatt, já sou alguem. A galeota do pai Lethierry vai continuar o serviço, senhores e senhoras. Uma casca do noz com duas rodas, e um tubo de cachimbo, foi sempre a minha mania. Disse sempre comigo: Hei de fazer uma machina destas! Data de longe; foi uma idéa que tive em Pariz, no café que faz a esquina da rua Christina e da rua Delphina, lendo um jornal que fallava do invento. Sabem que Gilliatt era capaz de metter a machina de Marly na algibeira e passear com ella? Este homem é de ferro batido, é aço de tempera, é diamante, um marujo de polpa, um ferreiro, um rapazola extraordinario, mais espantoso que o principe Hohenlohe. A isto chamo eu um homem de engenho. Nós não valemos nada. Os lobos do mar somos nós; o leão de mar é elle. Hurrah,