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introducção do editor, onde se incluem algumas outras poesias do mesmo poeta. Os sonetos são 110, divididos em cinco series, comprehendendo 20 a primeira (1860–1862), 28 a segunda (1862—1866), 17 a terceira (1864—1874), 23 a quarta (1874—1880) e 21 a quinta (1880—1884). Pertence á quarta o que dedicou á Virgem Maria (pag. 88). É também religioso o ultimo da collecção, que se intitula Na mão de Deus.

O sr. Oliveira Martins dá a sua opinião a respeito d’este lyrico notavel: «É sabidamente, diz elle, um poeta na mais elevada expressão da palavra; mas ao mesmo tempo é a intelligencia mais critica, o instincto mais pratico, a sagacidade mais lucida, que eu conheço. É um poeta que sente, mas é um raciocinio que pensa. Pensa o que sente; sente o que pensa... Anthero do Quental não faz versos á maneira dos litteratos: nascem-lhe, brotam-lhe da alma como soluços e agonias. Mas, apezar d’isso, é requintado e exigente como um artista: as suas lagrimas hão de ter o contorno de perolas, os seus gemidos hão de ser musicaes. As faculdades artísticas geradoras da estatuaria e da symphonia são as que vibram na sua alma esthetica.»

O soneto que inserimos lembra-nos o do visconde Henrique de Rochefort, que se publicou em 1854, dedicado á Conceição, e que reproduzimos.

 
LA CONCEPTION
 

   Toi, que n’osa frapper le premier anathème;
Toi, qui naquis dans l’ombre et nous fis voir le jour,
Plus Reine par ton cœur que par ton diadème,
Mère avec l’innocence et Vierge avec l’amour,

   Je t’implore là haut, comme ici bas je t’aime,
Car tu conquis ta place au céleste séjour;
Car le sang de ton Fils fut ton divin Baptême,
Et tu pleuras assez pour régner à ton tour.

   Te voilà maintenant près du Dieu de lumière,
Le genre humain courbé t’invoque la première;
Ton sceptre est de rayons, ta couronne est de fleurs.

   Tout s’incline à ton nom, tout s’épure à ta flamme,
Tout te chante, ô Marie! et pourtant quelle femme
Même au prix de la gloire eut bravé tes douleurs?

Luçay — 1854.

Vicomte de Rochefort.