Antonio Feliciano de Castilho (VII, XXIX, LI), primeiro visconde de Castilho, nasceu em Lisboa na rua de S. Roque a 26 de janeiro de 1800, filho do doutor José Feliciano de Castilho, lente, de medicina, e falleceu na mesma cidade em 15 de junho de 1875. Um nosso amigo e distincto litterato disse d’este marechal das lettras o seguinte: «Amou a natureza e a arte, e desatou-se em cânticos que ficarão echoando na historia da litteratura portugueza. Interpretou Anacreonte, Virgilio, Ovidio, Shakspeare, Goethe e Moliére, emprestando áquelles peregrinos ingenhos as maiores riquezas da lingua de Fr. Luiz de Sousa.» (Veja-se o Cenáculo, vol. 1.°, pag. 161.)

Foi da traducção que Castilho fez do Fausto de Goethe (publicado em 1872 corno tentativa unica do theatro do celebre dramaturgo allemão, pag. 305—307) que extrahimos a prece angustiosa de Margarida (VII). Esta traducção de Castilho foi muito discutida, como se sabe, na imprensa, distinguindo-se na accusação os srs. Francisco Adolpho Coelho e Joaquim de Vasconcellos e na defeza o sr. José Gomes Monteiro.

Entre as poesias religiosas de Castilho sobresahe eminente no seu genero o Rimance da Senhora da Nazareth, publicado nos Quadros historicos de Portugal (1838), pag. 60 e 61, que pertencem ás notas do quadro setimo. Este mesmo romance foi trasladado mais tarde para a collecção de poesias do mesmo auctor, intitulada o Outono (1863), pag. 153 a 171.

Foi d’aqui que extrahimos o canto m (XXIX), o qual contém a prophecia de Romano, o monge cauliano que a tradição refere que acompanhara o rei godo D. Rodrigo depois da batalha do Guadalete. Conhecida e popularissima é a tradição, assim como o milagre de Fuas Roupinho, o alcaide de Porto de Moz. Este romance ou chacara, pois qualquer d’estas denominações lhe cabe, é das melhores cousas do nosso poeta, que não se tornou inferior a Garrett neste gracioso trovar, eminentemente nacional. No começo justifica elle o encanto que estes contos despertam, contados tradicionalmente no curso das edades.

Não ha taes memórias de tanto deleite,
por onde a vontade melhor se esperguice,
como as que rescendem aos beijos e leite
de nossa apartada feliz meninice.