MYRTO.

Lysicles.


CLEON.

         Vive?


MYRTO.

               Sim. Depois de andar errante
N’uma taboa, á mercê das ondas, quiz o céu
Que viesse encontral-o um barco do Pyreu.
Pobre Lysicles! teve em tão cruenta lida
A dôr da minha morte e a dôr da propria vida.
Em vão interrogava o mar cioso e mudo.
Perdêra, de uma vez, n’uma só noite, tudo,
A ventura, a esperança, o amor, e perdeu mais:
Naufragárão com ele os poucos cabedaes.
Entrou em Samos pobre, inquieto, semi-morto,
Um barqueiro, que a tempo atravessava o porto,
Disse-lhe que eu vivia, e contou-lhe a aventura
Da malfadada Myrto.


CLEON.

                        É isso, a sorte escura
Voltou-se contra mim; não consente, não quer
Que eu me farte de amor no amor de uma mulher.
Vejo em cada paixão o fado que me opprime;
O amar é já soffrer a pena do meu crime,
Ixion foi mais audaz amando a deusa augusta;