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Entre o tumulo e o berço estão prescriptos:
Além, que enxergas tu? — o vacuo e o nada!...

Oh! feliz quadra aquella, em que eu dormia
Embalado em meu somno descuidoso
No tranquillo regaço da ignorancia;
Em que minh’alma, como fonte limpida
Dos ventos resguardada em quieto abrigo,
Da fé os raios puros reflectia!
Mas n’um dia fatal encosto á boca
A taça da sciencia; — senti sêde
Inextinguivel a crestar-me os labios;
Traguei-a toda inteira, — mas encontro
Por fim travor de fel; — era veneno,
Que no fundo continha, — era a incerteza!
Oh! desde então o espirito da duvida,
Como abutre sinistro, de continuo
Me paira sobre o espirito, e lhe entorna
Das turvas azas a funerea sombra!
De eterna maldição era bem digno
Quem primeiro tocou com mão sacrilega
Da sciencia na arvore vedada,
E nos legou seus venenosos fructos...