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A, que os olhos me cerca, escura treva!
O’ tu, que és pai de amor e de piedade,
Que não negas o orvalho á flôr do campo,
Nem o tenue sustento ao vil insecto,
Que de infinda bondade almos thesouros
Com profusão derramas pela terra,
O’ meu Deos, porque negas á minha alma
A luz que é seu alento, e seu conforto?
Porque exilaste a tua creatura
Longe do solio teu, cá n’este valle
De eterna escuridão? — Acaso o homem,
Que é pura emanação da essencia tua,
E que se diz creado á tua imagem,
De adorar-te em ti mesmo não é digno,
De contemplar, gozar tua presença,
De tua gloria no esplendor perenne?
Oh! meu Deos, porque cinges o teu throno
Da impenetravel sombra do mysterio?
Quando da esphera os eixos abalando
Passa no céo entre abrasadas nuvens
Da tempestade o carro fragoroso,
Senhor, é tua colera tremenda
Que brada no trovão, e chove em raios?
E o iris, essa faixa cambiante,