Nem moimento, nem piedosa lettra
Vem aqui illudir a lei do olvido;
Nem arvore funerea ahi susurra,
Prestando pia sombra ao chão dos mortos;
Nada quebra no lugubre recinto
A paz sinistra que rodêa os tumulos:
Alli reina sózinha
Na hedionda nudez calcando as campas
A implacavel rainha dos sepulcros;
E só de quando em quando
Vento da soidão passa gemendo,
E levanta a poeira dos jazigos.
Aqui tristes lembranças dentro d’alma
Eu sinto que se acordão, como cinza,
Que o vento de entre os tumulos revolve;
Meu infeliz irmão, aqui me surges,
Como a imagem de um sonho esvaecido,
E no meu coração sinto echoando,
Qual debil som de suspirosa aragem,
Tua voz querida a murmurar meu nome.
Pobre amigo! — no albor dos annos tenros,
Quando a esperança com donoso riso
Nos braços te afagava,
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