A imagem desse povo, que reflue
Das moradas á rua, á praça, ao templo;
Que ri, e chora, e folga, e geme, e morre,
Que adora Deus, e que o pragueja, e o teme;
Absurdo mixto de baixeza extrema
E de extrema ousadia; vulto enorme,
Ora aos pés de um vil despota estendido,
Ora surgindo, e arremessando ao nada
As memorias dos seculos que foram,
E depois sobre o nada adormecendo.
Vê-lo, rico de opprobrio, ir assentar-se
Em joelhos nos atrios dos tyrannos,
Onde, entre o lampejar de armas de servos,
O servo popular adora um tigre?
Esse tigre é o idolo do povo!
Saudae-o; que elle o manda: abençoae-lhe
O ferreo sceptro: ide folgar em roda
De cadafalsos, povoados sempre
De victimas illustres, cujo arranco
Seja como harmonia, que adormente
Em seus terrores o senhor das turbas.
Passae depois. Se a mão da Providencia
Esmigalhou a fronte á tyrannia;
Se o despota cahiu, e está deitado