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BRANDÃO, Jacyntho Lins. Sîn-lēqi-unninni..., p. 125-160


Não para de com o gado comer grama,
[128] Não para de deixar a pegada no açude,
Estou com medo e não chego junto dele.*

[130] Encheu os buracos que cavei eu mesmo,
Desatou as redes que estendi.*
[132] Tirou-me das mãos os bichos, os animais da estepe,
Não me deixa já o trabalho na estepe.

[134] O pai abriu a boca para falar e ao caçador disse:
Meu filho, ---- Úruk, Gilgámesh,*
[136] ---- com ele,


[Verso 125] É por conjetura que se reconstitui [kima kișri] ša danim, “[como uma rocha] de Ánu”, as palavras entre colchetes não se podendo ler no original. O termo kișrum é aplicado a Enkídu no v. 104, determinado pelo nome de outro deus, Ninurta (traduzi a expressão por “rocha de Ninurta”). Aqui, considerando que Ánu é o deus celeste, seria possível entender a expressão simplesmente como “rocha do céu” ou “pedaço de rocha do céu”, como faz GBGE, p. 545. Sanmartín observa que o que está em questão é “a força atribuída a um meteorito, mais exatamente, ao ferro de origem sideral”, considerando-se inclusive a repetição de kima kișru ša danim no v. 248 abaixo, em que está em causa uma chuva de meteoritos (SEG, p. 112).

[verso 129] O segundo hemistíquio deste verso (repetido no v. 156), ul ațehha ana šâšu (“não chego junto dele”), ecoa no dos v. 144 e 165, ițehha ana šâši (“chegará junto dela”, em que, primeiramente, o pai do caçador e, depois, Gilgámesh afirmam que Enkídu se aproximará da prostituta Shámhat, que deve ser levada até ele), bem como volta a ecoar no v. 183, ițehha ana kâši (“chegará junto de ti”, dito pelo caçador à prostituta), o verbo țehû(m) tendo o significado de “estar perto”, “chegar perto”, “aproximar-se”, inclusive, quando aplicado a pessoas e animais, para relação sexual. Worthington, 2011, p. 416-417, chama a atenção para nova ocorrência do mesmo termo na tabuinha 7, 105, quando Enkídu, à beira da morte, lança uma maldição contra Shámhat, izrūya lițhûki kâši (“minha maldição chegue junto de ti”, isto é, “minha maldição te aflija”).

[verso 131] O termo que traduzi por “rede” (nuballu) designa propriamente “asa”, em especial a da águia. Cf. GBGE, p. 794, deve tratar-se aqui de “uma rede em forma de asa”.

[Versos 135-136] Apesar de mal conservados, não há dúvida de que nestes versos o pai envia o caçador a Gilgámesh.

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