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nuntius antiquus

Belo Horizonte, v. X, n. 2, jul.-dez. 2014
ISSN: 2179-7064 (impresso) - 1983-3636 (online)

O caçador partiu ----

O caçador e Gilgámesh


[148] Pegou o caminho, para o coração de Úruk voltou a face,
Ao rei Gilgámesh ----:
[150] Há um homem que vai ao açude,
No país é ele que mais força tem:
[152] Como uma rocha de Ánu é sua poderosa força,
Vagueia sobre os montes todo o dia,
[154] Não para de com o gado comer grama,
Não para de deixar a pegada no açude.

[156] Estou com medo e não me aproximo dele,
Encheu os buracos que cavei eu mesmo,
[158] Desatou os laços que estendi,
Tirou-me das mãos os bichos, os animais da estepe,
Não me deixa já o trabalho na estepe.

[161] Gilgámesh a ele diz, ao caçador:*
Vai, caçador, contigo leva a meretriz Shámhat.
[163] Quando os bichos se aproximem do açude,
Tire ela a roupa e abra seu sexo.

[165] Ele a verá e chegará junto dela,
Estranhá-lo-á seu rebanho, ao que cresceu com ele.


Shámhat e Enkídu


[167] Partiu o caçador, consigo levou a meretriz Shámhat,
Pegaram o caminho, empreenderam a jornada,
[169] No terceiro dia, ao lugar aprazado chegaram.*


Observe-se como os v. 142-145 se estruturam para ressaltar justamente a incompatibilidade entre a convivência de Enkídu com os animais e com a mulher: os v. 142 e 145, referindo-se ao rebanho, envolvem os dois versos que relatam o encontro com Shámhat (v. 143 e 144). Não há dúvida, portanto, que é pela relação sexual com a mulher que se procede à mudança no estatuto de Enkídu, o que representa de modo igual uma inflexão na narrativa.

[Verso 161] Trata-se de uma outra fórmula, menos frequente, de introdução de discurso direto, que aqui aparece pela primeira vez.


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