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BRANDÃO, Jacyntho Lins. Sîn-lēqi-unninni..., p. 125-160

[279] A terra de Úruk estava em volta dele,
Toda a terra estava reunida em cima dele,

[281] Apertava-se a multidão em face dele,
Os jovens acumulavam-se em volta dele,
[283] Peguei-o e deixei-o a teus pés,
A ele amei como uma esposa, por ele me excitei,
E tu o uniste comigo.

[286] A mãe de Gilgámesh, inteligente, sábia, tudo sabia e disse a
seu filho,
A vaca selvagem Nínsun, inteligente, sábia, tudo sabia e disse a Gilgámesh:
[288] Filho, o machado que viste é um homem,
A ele amarás como uma esposa, por ele te excitarás,

[290] E eu o unirei contigo.
Vem para ti um forte companheiro, amigo salvador,
[292] No país é ele que mais força tem,
Como uma rocha de Ánu é sua poderosa força.

[294] Gilgámesh a ela diz, a sua mãe:
Mãe, pela boca do conselheiro Énlil tal me aconteça!*
[296] Um amigo, um conselheiro eu ganharei,
Ganharei eu um amigo, um conselheiro!

[298] Foi assim que viu seus sonhos.
Depois que Shámhat os sonhos de Gilgámesh contou a Enkídu,
[300] Fizeram amor os dois.


[Verso 278] Como anota SEG, p. 115, “o termo que designa ‘machado’, hașșinnu, é semelhante a assinnu, ‘jovem dedicado à prostituição sagrada’”.

[Verso 295] Cf. GBGE, p. 803-804, tanto se pode ler o “conselheiro Énlil” (dEnlil māliku) quanto o “príncipe Énlil” (dEnlil maliku/malku). Observe-se que, enquanto māliku (conselheiro), Énlil é o protótipo do príncipe (maliku), no sentido de que toma decisões baseadas em informações judiciosas e corretas. Na concepção babilônica, o rei é um māliku-amēlu, um “homem-conselheiro”, a sua habilidade em dar conselhos acertados estando em relação com a capacidade de exercer o poder.

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