com os cabelos espetados, furioso, atirou um pontapé, que apanhando o cão pela barriga, virou-o na estrada. O animal não fugiu e, apesar de repelido, tornou para junto do senhor de rasto, agachado, com a cauda encolhida.

– Quá! resmungou Mandovi, isso não tá bom, não. Esse caminho tem cosa. Gente não é... cachorro não foge de gente. Isso é cosa... E, parado, com os olhos enormes, o coração batendo precipitadamente, perscrutava as cercanias, quando, de novo, ouviu o grito agudo "Ma...andovi!" Estremeceu tão violentamente que o cajado quase lhe escapou da mão. "Nossa Senhora!" persignou-se e ficou preso à terra, agarrado ao solo como aquelas árvores frondosas que pareciam esconder o assombro.

Uma lembrança sinistra aumentou-lhe o pavor: "Eh! quem fala verdade é Jirimia..." Meteu a mão no bolso e, convencendo-se de que tinha o seu isqueiro, tranquilizou-se. "Ainda se for só mode pedir fogo... E a gente que não acredite..." Levantou os olhos – uma estrela cadente rastejou o espaço iluminado. "Deus te guie..."

"Mandovi!" E, logo depois desse grito lamentoso, que parecia desferido por alguém que sofria, numa barranca escalvada, sem árvores, sem ervas, um vulto, mais branco do que o branco luar, hirto, abrindo sobre o fundo espaço compridos braços duramente esticados, como uma fina túnica flutuante, balouçava-se molemente, aereamente, em lento vai-e-vem, da barranca às frondes do arvoredo, das frondes à barranca. O caboclo abriu muito os olhos num espanto mudo e tolhido, sem poder tirar-se da