O dobre de um sino encheu momentaneamente o silêncio com ondulante vibração; outro dobre ressoou mais brando, como se partisse de mais longe, e logo após um, forte e claro, conforme as voltas bruscas do vento que soprava grosso.
Dobrava a finados. Era o saimento de Teçai, velha cabocla septuagenária, descendente dos fortíssimos goitacazes, nascida e criada nesse lugar, primitivamente chamado a Taba de Itamina, pelo constante fogacho que ardia no monte, que diziam ser a alma pagã de Tagiira, morta ao trocar o seu primeiro beijo, fulminada por Tupã justamente quando ia entregar a sua virgindade à volúpia brutal de um aventureiro branco.
A gente simples de Itamina respeitava e temia a velha Teçai, uns pelas suas pragas e malefícios, outros por terror da lenda que se criara em volta do seu nome.
"Teçai, a mãe das lágrimas, diziam em trovas os poetas sertanejos, era filha da iara Porangi, fecundada por um raio da lua nova de agosto. Nascera na madrugada de uma sexta-feira, à hora do primeiro cantar do galo. Na mocidade seus olhos tinham o poder de envenenar os homens e eram tão fortes que, se se levantavam para o céu, as estrelas de Deus caiam moribundas".
Era por isto que em Itamina, à noite, quando esfuziava uma estrela cadente, os rústicos, persignando-se, diziam:
– Mais uma vítima dos olhos de Teçai!
Os que a conheceram moça falavam com elogios da sua grande beleza, mas ninguém se gabou jamais de a ter possuído.