— Sim, porque eu quero respeito aqui em casa. Lá fora, tudo quanto quiseres; aqui não.
Paulo não achou uma palavra para responder, ficou como atordoado, olhando a enferma que continuava em resmungo, defendendo a seu lar como se houvesse adivinhado a intenção do filho.
— Bem sabes como sou. Se é uma pessoa honesta, muito bem; mas troças aqui, isso não!
— Que troças, mamãe. Então eu havia de meter em casa uma vagabunda?
— Não sei... Conheço Mamede: bom rapaz, bom rapaz, mas lá fora. Vem a mulher, amanhã é ele que se mete aqui. Não quero. Prefiro morrer sozinha. Deus me acompanhará.
— Ele não vem.
— Pois sim, faze lá o que quiseres, contanto que haja respeito aqui.
E ele, procurando desviar a palestra do assunto escabroso, perguntou:
— E Felícia? posso despedi-la?
— Sim, mas não a maltrates, tem pena dela. Enquanto teve juízo foi muita boa para todos nós, agora, coitada...!
— Descanse, mamãe.
Foi à cozinha. A negra não estava, procurou-a no quarto, chamando-a. Saiu ao quintal, lá a encontrou acocorada, cavando a terra. Chamou-a. A negra voltou-se de ímpeto e fitou nele as olhos que ardiam.
— Felícia, nós vamos sair. Mamãe está mal, precisa mudar de ares. Vamos para longe, não podemos levar-te. Tens aqui o teu dinheiro. Arranja o