que é teu e procura casa onde fiques. Quando voltarmos irei buscar-te.
A negra ouvia com um sorriso estampado no rosto. Levantou-se, sacudiu as mãos e foi caminhando devagar para a cozinha. À porta, porém, deteve-se e, voltando-se impetuosamente, como se fosse responder com fúria, olhou-o serena e, de novo, o sorriso abriu-se-lhe no rosto macilento e fulo. Entrou e, diante do fogão, repentinamente tomada pelo delírio, apanhou as pontas do vestido roto, ergueu-a e pôs-se a sapatear, a voltear, cantarolando:
Vou-me embora! Vou-me embora.
É mentira, não vou, não...
Dobrou-se a rir, derreando-se sobre o fogão, e ali ficou na rinchavelhada insana, sem dar pelo rapaz que a contemplava, parado à porta. Vendo que ela não se decidia, Paulo chamou-a, enérgica:
— Então, Felícia!
— Uai!
Outra gargalhada ralou, sinistra.
— Uai! Vancê vá inda, eu vou depois.
— Não, hás de sair agora.
— Agora não, respondeu a louca com toda a calma, meneando com a cabeça. Agora não.
Sentou-se a um canto, espichou as pernas magras e pôs-se a raspar o soalho, sempre com a cabeça em movimento negativo.
— Meu filho não falou. Quando meu filho falar. Tudo tem seu tempo. Pois então? Vosmecê quer, ele não quer. Eu