Os homens, no entanto, tomavam os seus cajados. O balio, chamado, tocou a trompa para reunir os seus arqueiros. As mulheres escondiam as crianças: outras plantavam cruzes à porta da casa. O abade mandara tocar o sino. E era como quando na aldeia aparecia um bando de lobos.
Cristóvão devia vir por uma azinhaga, onde se postaram os homens com os cajados, os arqueiros com os seus arcos retesados, e o padre, atrás, alçando a cruz com mão trêmula. E um bando de mulheres da aldeia, até as velhas trôpegas, esperavam para ver o feiticeiro espancado e expulso. Todos eles tinham recebido os serviços de Cristóvão; a todos ele cavara a terra, transportara os carretos, rachara a lenha, tosquiara o gado. Mas, em cada um desses serviços, cada um via agora como um ardil de Satanás. Mil coisas lembravam, que o condenavam. Uma noite aparecera um velho desenterrado. Quem o desenterrara senão Cristóvão? Às vezes, de noite, luziam na treva da aldeia dois grandes olhos vermelhos. De quem seriam senão de Satanás, que vinha alta noite conversar com Cristóvão? Por que não rezava ele nunca no adro? Outros acudiam, afirmando que ele tinha, nas costas, pintada uma caveira. Era decerto o sinete da Morte. E alguns, que duvidavam, lembrando-se da sua doçura, da sua bondade, receavam defendê-lo