este era doce e serviçal, mas assim eram as artes do Demônio, que durante um tempo se faziam doces e afáveis, para melhor se apoderarem das almas. As mulheres, ouvindo isto, ficavam pensativas. Era então em Maio: já as macieiras tinham flor, e as primeiras espigas dos trigos saíram da terra, e os prados enverdeciam. Mas eis que, uma noite, grandes relâmpagos luzem sobre o vale, um trovão rola sobre as serras – e subitamente, com o estalido de lanças entrechocando-se, caiu o granizo. Longo tempo caiu, arrasando o colmo dos casebres, matando os rebentos novos, esmagando as frutas, devastando o gado nos apriscos. De manhã toda a aldeia estava pobre: - e os homens corriam pelos campos, a olhar os destroços, enquanto as mulheres, juntas no adro, carpiam como num funeral. Um padre veio logo do convento, e estendendo a mão, demonstrou que, por causa do endurecimento das almas viera aquela visitação. Por que persistiam eles em acamaradar com um servo do Demônio? Cristóvão, como todos os gigantes, era um emissário de Belzebu: - via-se-lhe o Inferno nos olhos, nas barbas que o fogo crestara, e na sua fingida humildade. Mas eles continuavam a dar-lhe o pão e o sal, e aí estava que o Senhor lhes devastara as sementeiras. Toda a tarde assim falou – enquanto Cristóvão andava no campo, atando os ramos caídos, secando os charcos, compondo os tetos dos casebres.