rumor das folhas. Um raio de Lua batia a face barbuda do coxo, que começou a pregar.
Erguendo os braços, perguntou onde se encontraria a felicidade para o pobre? A terra era para ele um lugar de desolação. E desde que nascia até que o levavam para a vala, ele não fazia mais que gemer na escravidão. Da alvorada à noite, trabalhava. E para quem ia todo o fruto do seu trabalho? Para o Senhor, para o Bispo, para o Intendente que vinha com os arqueiros. Para que o Senhor tivesse armas, ele não tinha lume, e tremia de frio. Para que o Bispo tivesse banquete, ele não tinha pão, e empalidecia de fome. Para que o Intendente vivesse em casas cobertas, ele vivia em tocas que as suas mãos cavavam na terra.
E era só necessidades que sofria? Não. Era espancado, arremessado para o fundo das prisões, morria ente os tormentos... Se a sua mulher era bela, vinham homens de armas que a levavam. Se a sua cabra dava bom leite, vinha o senescal do convento que a confiscava. Tinha que pagar para nascer, tinha de pagar para morrer. Nos homens, para ele, não havia piedade. E havia-a porventura no Céu? O Céu mandava as fomes, mandava as pestes. Quem salvaria o pobre?... Amo forte, que o protegesse, só lhe restava Aquele que vive debaixo da terra e que tem todos os poderes. Ele reunia os seus filhos, ali, onde eram livres e onde não chegava