Um momento chegou, mais desesperado, em que Onofre decidiu abandonar aquele Deserto. Tomou o seu rolo da Escritura, a cruz que fora de S. Nilo, e um dia, antes do declinar do Sol, começou a caminhar para ocidente, para as serras do mosteiro de Cétis.
Estava à orla da grande planície arenosa, quando a escuridão o colheu. Para comer o punhado de tâmaras que trouxera, e beber da sua cabaça, descansou numa rocha – e imediatamente viu diante a alimária disforme, que, sentada, sem que as patas se distinguissem do corpo, jazia como um monte sobre a areia, com a vasta tromba pendente, e cravados nele os olhos, de estúpida e horrenda tristeza. O desgraçado Onofre fugiu para trás, para o seu rochedo, onde ao menos a sua caverna o escondia. E quando de novo, alta noite, alagado em suor, arquejando, pisou as lajes costumadas – o monstro lá estava, com a sua tromba, a sua tristeza, a sua estupidez.
Então o Solitário sentiu um intolerável horror à vida – e os seus olhos devoravam ansiosamente a borda daquele alto rochedo, de onde podia cair para sempre na paz e na insensibilidade. Não se matara Saul? Não procurara e se dera a si mesma a morte Pulquéria de Antioquia, que toda a Igreja louvava? O que era a confissão da Verdade, perante os pretores romanos, senão a voluntária entrada na morte?