mesa cheia de taças, de pedaços de gelo, abrigadas por um velário; uma cortina que se descerrava, deixava entrever uma mulher, derramando um perfume sobre os braços nus... Onofre estremecia, como despertando, e reentrava na caverna, atribuindo aquelas visões à debilidade, aos longos jejuns. Ah! se ele pudesse um dia comer uma carne forte, beber um longo trago de vinho – mais longas podiam ser as suas orações, e na sua doçura salutar se desfaria toda a inquietação da sua alma.
E sempre que assim pensava, logo um prato de argila, cheio de ostras de Canópia, alvejava no chão, ao lado de uma vasilha de vinho, que espumava, ou um cheiro de anho assado e fumegando, se espalhava na treva. Era uma realidade, uma ilusão? Bem podia ser um dom milagroso do Senhor! Não alimentara Ele Elias no Deserto? Não fizera Ele brotar, aos pés de Pacómio, que a sede torturava, um ramo carregado de damascos? E uma noite, que ele viu, ao lado do seu leito de folhas, um pão muito fresco e muito branco, e uma taça larga de vinho onde flutuava gelo – não duvidou da Misericórdia do Senhor, e, rindo de gozo, estendeu a mão trémula. Deu um grito: sentira o ardor de uma brasa! Era pois uma horrenda oferta do Demónio, e no Inferno se amas-sara aquele pão, no Inferno se vindimara aquele vinho! Se ele tivesse morrido nesse momento era a