Tu mesmo, por tua mão, fecharás as portas dos templos. E, sem mesmo despires esse surrão, em toda a tua simplicidade, oferecerás ao teu Deus Roma, as Legiões, as Províncias, e todo o Género Humano. Hem?
Debruçado, com os braços abertos, de onde pendiam os panos rubros do manto, ele parecia uma ave de rapina, coberta de sangue, e de asas já cerradas sob a presa fácil.
E, num bafo ardente, murmurava:
– Que ocasião, Onofre, que ocasião! O que não fez Paulo, nem Gregório, nem o grande Atanásio, nem o imenso Orígenes, tu o farás só com falar de manso e finamente junto à orelha de César! Bem sei! Não é o orgulho do esplêndido feito que te impele... Decerto. Mas pensa! Todos os martírios findos, os ídolos cobertos de bolor, a terra cheia de cantares, e o Cordeiro no seu Redil. Hem?
Onofre tremia todo, deslumbrado. Balbuciou:
– E o Imperador?
– Quer! Pois se já, nos Idos de Março, uma noite, ele vos viu em sonhos, a ti e ao Outro – ao Outro com a sua coroa de espinhos, e as mãos ainda com os pregos, que te empurrava, para diante de César, e gritava, em grego: – Este te ensinará o que convém saber! E eras tu, tu com essa pele de cabra, essas barbas, e essa beleza clara e majestosa, que te comunica a virtude.