o dorso do dromedário, as lanças em confusão, fugiam em debandada, e num rolo de fumo.
Onofre caiu de joelhos. Diante dele o manto enrodilhado fazia uma mancha vermelha. Palpou muito de leve com os dedos: – era sangue! Arrepiado, num terror infinito, recuou – e o sangue começou a rebrilhar, tão liso e vidrado, que ele avistou nele, como num espelho, a sua face. Não a vira desde que entrara no deserto – e recuou, espavorido, ante a fealdade com que ela lhe reaparecia, dura, esbraseada de orgulho, toda entumecida de Pecado.
Muito tempo, então, chorou amargamente! Oh miséria, oh dor! Em tantos anos de penitência e ermo, o seu coração não obtivera purificação – e permanecia coberto de uma crosta de maldade. Decerto mil noites de dura peleja ele rechaçara o Pai da Mentira! Mas esses eram os triunfos fáceis que os mesmos pagãos, sem o socorro de Jesus, alcançam sobre a Carne. Quando, porém, o grande Mentidor vem, e do cimo de uma rocha, como ao Senhor, lhe promete uma grande glória entre os homens, logo ele se deixa levar pela mão, consentindo, com uma facilidade de prostituta. Oh alma miserável, há tanto fora do mundo, e ensopada ainda no orgulho do mundo, como uma esponja que saiu da água podre! Que penitência, e que exercício heróico de humildade havia aí, que pudesse espremer, até à última gota