impura, aquela soberba que trasbordava, empestava todo o seu ser! Trinta anos se flagelara! Trinta anos se esfomeara! A sua oração subia para o Céu tão constantemente como o seu hálito. E arrastara correntes de ferro; velara meses, com os joelhos em pedras agudas, e os olhos risonhos postos nas claras estrelas, ou dormira embrulhado em cardos; dera a beber do seu sangue às vespas; esmagara os ossos debaixo de grossas pedras... E em vão!... Que podia então ainda fazer naquele ermo? Onde havia martírios mais dolorosos? Onde se aprendiam preces mais extáticas?... Onde?
Sentado, abatidamente, sobre os calcanhares, com a barba descendo em flocos entre os braços caídos, Onofre erguia os olhos arrasados de lágrimas, suplicando ao Céu um ditame.
Porventura aquela vida solitária seria estéril para o Bem?... Na verdade – entre aqueles areais e aquelas penedias, como exercer suficientemente a humildade, a caridade? Ele não tinha sequer ao seu lado um cão, para quem pudesse ser paternal. E se a humildade passava dentro da sua alma, sem que o mundo a testemunhasse, ou com ela aproveitasse – era fácil, e era vã. Que fazer? Deixar o ermo? Voltar para entre os homens?
Lentamente murmurou, no silêncio:
– Voltar para entre os homens!
E, ante os seus olhos, que se embebiam nas estrelas,