julgou vagamente entrever a forma de um homem: – estava sentado junto de um muro, quase nu, e gemia coberto de chagas! Depois o muro prolongou-se, e era um alpendre, onde outro homem, um escravo, muito velho, com o dorso vincado dos açoites, arquejava, fazendo mover a pesada mó de um lagar! Depois a mó do lagar separou-se em lajes, e era uma estrada onde seguiam, ligados por cangas, arrastando grossas algemas, bandos de cativos, que soldados impeliam com picadas das lanças. Depois as lanças ficavam cravadas no chão, e eram cruzes, onde agonizavam, listrados de sangue, corpos que os abutres, voando em redor, batiam com as asas negras. E dos olhos de Onofre, que seguiam estas dores, as lágrimas caíam em fio, silenciosas e quentes.
A cada lágrima que assim caia, Onofre sentia no seu coração um alívio inesperado e novo.
Muitas lágrimas chorara no ermo – mas nunca tão consoladoras! E todavia eram as memórias das Dores do Senhor, do seu doce corpo cheio de chagas, do seu suor de aflição, e da sua queda, na áspera serra, sob o ultraje dos soldados e da cruz, que lhas fizeram derramar, em noites de piedoso cismar. Porque eram mais doces e pacificadoras estas, que lhe arrancavam as chagas, e os trabalhos, e os cativeiros, e os suplícios dos homens mortais? As lágrimas vertidas pelas dores humanas eram, pois, mais