diria então com simplicidade: «O mundo, para o restituir a Deus!» E a Deus daria, com efeito, as cidades, os homens. Por que não? Em verdade, ele seria César!
E com a face erguida, no seu imenso sonho de orgulho, Onofre riu largamente. Era César!
Então, larga e áspera, uma outra risada soou por trás dele na solidão. Num terror, Onofre olhou em redor, ansiosamente. «Quem ri?» exclamou. Aqui, além, através do ar tão sereno e repassado de luz, a risada áspera e lenta, saltava, estalava. E já os joelhos de Onofre, tremendo, desciam para a terra – quando longos dedos moles o repuxaram, e uma voz acudiu, mais dura e seca que o rolar de calhaus:
– Oh Onofre! Oh César que tudo podes! Olha o rio! Olha o rio! Do alto do teu orgulho, oh meu irmão, olha o rio!...
Diante de Onofre, até às colinas, até aos muros derrocados de Bubastes, o Nilo subira, mais largo, mais devastador. A Lua brilhava sobre as águas. As cegonhas fugiam, no silêncio. E uma onda fria, que marulhava encrespada, batia já aos pés do velho. Tentou recuar, mas todo se sentiu enlaçado naqueles dedos moles, que se alongavam, se enroscavam, como serpentes frias em ramos de árvore. Então compreendeu: – o seu milagre fora uma ilusão do Demónio! Um longo grito rompeu da sua alma: «Jesus!» E caiu por terra, coberto de um suor tão frio, que ele pensou ser a água que o devorava.