Quando se ergueu – com tantas, tão densas lágrimas, que mal podia, através da sua névoa, achar o bordão a que se arrimava – foi para considerar o pecado insondável em que se despenhara. Como outrora, na sua cova do Ermo, caíra pelo Orgulho! Na sua alma tão bem defendida, o orgulho abrira à traição uma fenda – e por ela entrara todo o Inferno. Oh miséria incomparável! Tão longos e ardentes anos trabalhara para limpar a sua alma, que a julgava toda transparente, e branca, e rebrilhante, como uma água muito pura num cristal muito polido. Não suspeitava, que, escondido no fundo, ainda restava um pouco de lodo primitivo – e eis que o Demónio a invade, e nela se debate furiosamente, e agita o lodo fundamental, e a torna tão turva e fétida como um charco espezinhado e fossado por um bando de porcos. Oh miséria, oh dor! Como ele toda essa noite, sob o testemunho dos lumes divinos, ofendera audazmente o Senhor! E de que modos afrontosos e diversos ele o ofendera – tomando como uma força da sua virtude o que era apenas uma graça caída da misericórdia de Deus! Longe de se regozijar com o pobre pedreiro, e com ele ficar, em humildade, louvando o Senhor – correra para longe, a saciar-se voluptuosamente, na solidão, de sonhos ardentes de soberba e glória. E em vez de aproveitar aquele prodígio, tão doce e tão humano, para o derramamento da