Verdade entre os gentílicos, só sofregamente o considerara como proveito da sua ambição transcendente. Oh quanto ofendera o Senhor! Num momento estragara uma longa vida de penitência – e todo se tornara de novo, da cabeça à sola dos pés, uma crosta fétida de pecado. Onde havia na terra monstro bastante imundo, para ser congénere do seu corpo, e da alma imunda que dentro dele apodrecia? E agora, tão velho, como poderia ainda, através da penitência, alcançar a purificação! A morte já se avizinhava, e a alma que tinha para restituir a Deus, estava coberta toda da lepra do mal. E sem tempo para a limpar, pela oração e pela humildade – era o Inferno, o Inferno iniludível! Oh miséria!
Seguro com aquela infinita paz, em que deliciosamente se movia, como no inefável ar do Paraíso – ele esquecera o Demónio. Mas, pacientemente, o Inimigo do homem rondava em torno dele, subtil e mudo, como um vento de pestilência. E ele respirava tão profundamente esse vento pestilento, que cada um dos seus pensamentos fora então como uma chaga que supura. Com os pés enterrados na lama, ele considerava o Céu como já seu, ousando pensar que era um Santo! E entre aquelas estrelas marcara o seu lugar de beatitude! Horrendamente desvanecido, calculava, como um conquistador que conta as suas coroas triunfais, as lâmpadas e as flores, e as oferendas,