Onofre avançava, arquejando, com a língua seca e pendente. Um poço de caravana, marcado ao longe por um círculo de pedras e dois tamarindos negros, surgia como uma tentação: – mas o penitente afastou a face, mais ansiosamente rastejou, fugindo daquela água, decerto turva e lodosa como de uma voluptuosidade mortal. E não cessava de orar. Quando encontrava ossadas de animais, esparsas no pó, erguia os olhos embaciados às alturas, murmurava: «Meu Deus, faz que os meus ossos vis, assim também branquejem perdidos!»
As angústias da fome, que o assaltavam, foram para ele como bem-vindas – e ofertou essas dores ao Senhor como lhe ofertara a da sede. O destroço do seu corpo era tão grande, que cada pousar da mão esfolada na areia ardente lhe arrancava um gemido: – e já por momentos se abatia, estirado, inerte, como morto, sob a dardejação crua do Sol. E era então nele um terror angustioso da morte, que lhe abreviaria os tormentos, e lhe impediria o resgate.
A refulgência do deserto esmorecia, e um lento véu anilado revestia a cordilheira líbica. Era o descer da tarde – e com ela descia sobre Onofre uma sonolência, fria e funda, como um desmaio.
Para a sacudir tentava cantar hinos santos: – mas a sua pobre boca, ressequida e rígida,