como de greda, só lançava sons roucos, que se perdiam entre gemidos. E marchar, já não podia, porque os seus joelhos eram duas chagas, onde se empastavam areia e sangue. Rasgou um pedaço da túnica, para os embrulhar: – e como o Sol se escondera e ao longe, um monte de pedra, uma magra palmeira, indicavam outro poço, para lá se arrastou, receando tombar num estado de inanição, que lhe encurtasse a penitência. A água do charco era negra e lodosa: – mas sobre essa pedra havia uns restos de farinha e de fava crua, desses que as caravanas deixam para as divindades do deserto. Comeu enfim, bebeu enfim! Lavou as feridas – e mesmo deixou que os olhos se lhe cerrassem, mas, de pé, apoiado ao gume de um penedo, para que o sono fosse doloroso e breve. Despertou aos uivos tristes dos chacais. Todo o céu se enchera de estrelas: – e Onofre pousando na terra dura as mãos em chagas, recomeçou a avançar no deserto. Tão radiantes e largos eram os astros, que a ilimitada areia alvejava sob a muda palpitação, com a lividez de um sudário: – e então grossas formas, terríveis pela sua bestialidade, vieram aterrar o coração cansado do penitente. Ora era um vasto macaco, de dorso arqueado, que sobre as quatro mãos caminhava ao lado dele, como ele, e quando ele gemia, gemia e quando ele orava, guinchava. Ora era um licorne, que vinha do fundo do ermo a galope, e estava diante de