sentiu mais profundamente o seu abandono, e a sua miséria. Deus, seu socorro e força no ermo da sua antiga penitência, para sempre agora se retirara da sua alma. E era solitário, desamparado do Céu, tão velho, cheio de chagas, e deixando o seu sangue em rastos pelas areias, que ele tinha de afrontar as solidões, os transes, as necessidades, e os demónios. Que importa? Devia caminhar, e padecer.
E de novo recomeçou a rastejar, balbuciando louvores ao Senhor. Todas as estrelas se tinham apagado. Das formas monstruosas que há pouco o cercavam, nenhuma se destacava, ou movia na escuridão ilimitada. Apenas restava a mudez, a treva, e a solidão infinita. E sob aquele vasto céu negro, por sobre aquele imenso deserto negro – Onofre lá seguia, única forma viva, negra também, de rastos como um bicho, todo ferido, todo sangrento, gemendo com longos gemidos, que se perdiam na treva. E não cessava de avançar, nem de gemer. Sempre para diante, pousando na areia as mãos roídas e gastas, arrastando na areia os ossos descarnados dos joelhos – e chorando, e gritando: «Senhor, tem piedade! Senhor! tem piedade!»
Mas já a alma ia perdendo o domínio sobre o corpo: – e era só o seu desejo que caminhava para além, para as montanhas, porque a cada instante os braços se lhe estiravam pelo chão, moles