cheio de seiva nova. E logo nele, para sua perdição, se desencadearia o orgulho do seu Poder! Não, não! Ele bem sentia o Inimigo, tentando penetrar nele pela porta da sua piedade entreaberta. E sempre a sua perdição estava onde estivesse a humanidade! Só no ermo havia segurança. Murmurou uma bênção à mãe desgraçada, e ia partir, desesperado. Mas a criancinha gemeu – ele parou ainda com um longo suspiro. Oh doce inocentinho, que toda a longa noite ia assim gemer tão dolorido, talvez com fome!... E ninguém o curava. E não tinha ninguém! Os lábios de Onofre tremiam.
– Oh meu pobre menino, meu pobre menino! – exclamou.
Então a criancinha ergueu a cabeça devagar, e com um gemido maior, um ai tão triste, levou a tremer a mãozinha magra ao seu pobre olho coberto de trapos.
Uma violenta, desesperada piedade invadiu o coração de Onofre. Arrojou o cajado, gritou:
– Pois bem, que importa! Que a minha alma se abisme no orgulho e no mal!
E com a face que flamejava, os cabelos eriçados de terror divino, arrebatou a criança, levantou-a toda para o Céu. E diante da mãe espavorida, Onofre bradava:
– Meu Deus, dá-me o meu salário. Setenta anos te servi. Por ti sofri todos os tormentos