limpando-os aos pêlos do lebréu, sentado a seu lado, à espera dos ossos. Nas tardes de Verão, o maioral dos gados vinha junto da janela da sala, tocar na flauta de barro. E quando o servo retirava as frutas, apinhadas em seiras de esparto, e outro punha sobre a mesa vazia dois candis, o capelão ia buscar um grosso in-fólio, que abria, e lentamente, emperrando nas letras, lia a vida de um santo, ou uma batalha do Tesouro das Batalhas, que conta todas as grandes guerras, desde a que os anjos maus travaram com os anjos bons. D. Tareja tomava a sua roca e fiava, ou dava alguns pontos no frontal, que havia dez anos andava bordando para a igreja do convento. O bom Senhor, com as mãos sobre o estômago, dormitava. E quando o capelão parava, a beber um golo de água, ouvia-se ranger o cata-vento de ferro – ou, nas noites de Verão, o canto triste dos sapos nas relvas.
Mas, com um gesto, D. Tareja detinha o santo homem, que fazia uma dobra na página do seu fólio. O intendente, à porta da cozinha, batia as palmas, todos os servos entravam, mesmo o pastor com o seu surrão. E era o bom Senhor que de pé, e ainda sonolento, rezava a primeira ave-maria do Terço. Depois D. Tareja fechava os bufetes, tomava um candil, um pichel de vinho preparado com mel e canela, e subia com o seu Senhor para o quarto, a