e constantemente o aio, aterrado, tinha de o agarrar, para que ele não descesse dentro do balde à cisterna, ou não percorresse o topo da velha muralha, saltando de ameia em ameia. Depois, à noite, à ceia, ouvindo, absorto, com a face entre os punhos, o olhar deslumbrado, as histórias de batalhas, que lia Frei Múnio no seu grande infólio – soltava brados de alegria, quando vinha um desses golpes de espada que partem o elmo, racham o cavaleiro e matam ainda o cavalo; ou quando, nos assaltos das vilas, a força de um só braço quebrava uma porta de bronze. De noite, no seu catre, gritava, sonhando com recontros de lanças. E a mãe que corria, pondo a mão diante da lâmpada, quase se aterrava, vendo na linda testa do seu anjo adormecido uma ruga de cólera heróica.
Mas D. Rui sorria, deslumbrado, certo que seu filho seria um dia um grande conquistador. Era todavia admiravelmente sensível e bom: – e Frei Múnio antes via nele os prenúncios de uma caridade que ilustraria a Igreja. Amava todos os animais, sobretudo os pequeninos: e o seu cuidado era que as pombas não sofressem sede, e não faltasse a ração farta aos galgos, no seu canil. Protegia os sapos por os saber despre-zados; e se encontrava um, na erva húmida, rente da nora, com as suas mãos, e sem nojo, o levava para longe, para que a vaca atrelada à