roda dos alcatruzes o não pisasse, no seu giro dormente. Aos domingos, descendo, com os pais, a avenida de castanheiros para a igreja, a cada passo se detinha, a procurar na escarcela uma moedinha para os pobres: – e na igreja, de joelhos sobre a almofada, no altar-mor, com as mãos postas, e o seu gorro de plumas pousado no chão, tanto se penetrava da pobreza e dor por que Jesus passara, vendo o seu corpo nu e pequenino nas palhas do curral, a sua túnica rasgada pelos açoites, as suas mãos, tão doces aos tristes, varadas pelos pregos, que os olhos se lhe enchiam de lágrimas. À porta da igreja todo o povo de Gonfalim se juntava para o ver passar, com os seus cabelos louros, em anéis sobre os ombros, coberto com os veludos de um príncipe, fino e direito como uma espada toledana – mas tão simples e familiar que reconhecia os criados, gritava rindo os seus nomes – ou atirava às crianças, no colo das mães, beijos que cantavam no ar.
Aos oito anos, tendo Frei Múnio preparado num quarto da torre de Ermigues, por ser mais silenciosa, livros, folhas de velino, e grossas penas, Gil começou a aprender as letras, a escrita, a História Santa, e os cálculos dos Árabes. Por mais lenta e longa que fosse a lição, ele permanecia atento e grave. A sua alegria foi ruidosa quando soube escrever o seu nome e os seus apelidos, com letras ornadas e