Aí o bom Senhor contou ao prelado o grande amor do seu Gil aos estudos, e como já traçava a letra grande e miúda, e quanto lhe eram familiares todas as sagradas histórias: – e andava ele pensando se seu filho, bem ensinado por outro mais lido em livros que Frei Múnio, não se tornaria um bom escolar em leis, ou fino sabedor das Artes de Curar. Então o bom prelado, tomando a mão de Gil, e indicando a pedra polida e branca que encimava a fonte, convidou risonhamente Gil a ler a inscrição que lá gravara, havia anos, um douto monge daquele mosteiro. Sem esforço, o moço gentil decifrou as rudes letras entalhadas, que diziam: – «Clara e perene, como sai esta água desta rocha, brota a bondade dos nossos corações...». E o bom abade admirou este precoce saber. Mas quanto mais o seu grande conhecimento das Histórias Sagradas! Direito, com um brilho nos lindos olhos, e como se conversasse de coisas familiares e íntimas, o moço gentil, interrogado pelo D. Abade, contava a grande cólera de Jeová, Caim fugindo através dos montes, a chuva durante quarenta dias, José governando o Egipto, o Povo errando no deserto, Jericó caindo ao estridor das trompas...
Todos os pássaros se tinham calado, em redor, na ramaria da cerca. A água caía da rocha, com um murmúrio abafado. Uma doçura maior amaciara o ar: – e os raios do Sol